O controle da resistência e maturidade do concreto em projetos de grande escala é tradicionalmente registrado e medido manualmente. Hoje em dia, existem novas tecnologias que permitem fundir sensores diretamente dentro do concreto, o que, conectado a um transmissor, permite conhecer continuamente suas diferentes temperaturas, enviando os dados remotamente à plataforma em nuvem. O software então calcula automaticamente a maturidade e a resistência com base em dados históricos, de forma que o processo de desenvolvimento da mistura e da resistência do concreto possa ser acompanhado de qualquer dispositivo e em tempo real.
Esses sensores, baseados na tecnologia 0G da Sigfox, uma das principais operadoras de IoT (Internet of Things) em todo o mundo, permitiram a construção de um dos projetos arquitetônicos mais inovadores da Europa, as Cactus Towers (Kaktustårnene) em Copenhagen, auxiliando a conhecer quando exatamente retirar a fôrma para gerar sua fachada característica.
Conversamos com Rebecca Crowe, Diretora Geral da Sigfox Espanha, para saber mais detalhes sobre esta nova tecnologia.
José Tomás Franco (JTF): Antes de falar sobre o sistema, você poderia nos contar mais detalhes sobre o projeto Cactus Towers (Kaktustårnene) e sua complexidade técnica e material?
Rebeca Crowe (RC): As torres Cactus, que devem estar prontas na primavera de 2022, foram projetadas como prédios residenciais, destinados a ser um lar para jovens no centro de Copenhague. Têm uma complexidade técnica que poucos edifícios apresentam, devido à peculiar forma pontiaguda da fachada, que dá origem ao nome. Eles têm um núcleo hexagonal com tampas que parecem se torcer em varandas niveladas. Um deles tem 60 metros de altura e o outro um pouco mais, cerca de 80, e ambos abrigam 495 apartamentos com estética moderna.
Quanto aos materiais, uma atenção especial foi dada à concretagem para obter uma base sólida, o que é um desafio adicional, uma vez que grandes estruturas com vários pavimentos normalmente requerem refrigeração para garantir a qualidade do produto. Nesse sentido, o monitoramento do estado do concreto vem desempenhando um papel fundamental, pois é imprescindível dar-lhe a forma retorcida e tão particular que as torres apresentam.
JTF: Como funcionou o processo de medição em tempo real das condições do concreto por meio de sensores?
RC: Para este caso específico, as construtoras utilizaram uma solução de um dos nossos parceiros, Maturix, que consiste numa ferramenta abrangente que tem permitido controlar a resistência do concreto de uma forma muito mais eficiente, longe dos registos manuais que estavam sendo usados anteriormente e envolviam trabalho extra dos funcionários.
Com termopares fundidos na mesma estrutura, a temperatura do concreto pode ser avaliada em tempo quase real. Quando estão conectados a um transmissor, esses termopares enviam as informações sem fio para a nuvem. O Maturix possui um software responsável por calcular a maturidade e a resistência com base no histórico, o que é uma vantagem na hora de fazer ajustes na gestão de projetos. Além disso, por ser um edifício deste calibre, tão extenso e com grande número de subcontratados, é uma mais-valia em termos de organização e medição do tempo.
JTF: O que é tecnologia 0G e como ela funciona?
RC: A segunda parte que tornou o projeto possível, junto com os sensores e tecnologia Maturix, é a nossa rede 0G. É uma alternativa simples, de baixo consumo e de longo alcance para conectividade IoT, amplamente utilizada no mundo da indústria, logística ou monitoramento de ativos. Por ser baseado em tecnologia de rádio, ele supera algumas das limitações tradicionais de outras alternativas baseadas em redes celulares ou cartões SIM, como escalabilidade ou ser capaz de fornecer serviço em interiores, áreas rurais ou, neste caso, monitorar a temperatura do concreto em tempo real.
A rede 0G é a primeira opção de conectividade projetada exclusivamente para a IoT. Como a maioria dos requisitos de IoT industrial precisa apenas de um pequeno pacote de dados, decidimos nos concentrar em uma rede de baixo consumo de energia para alcançar um alcance muito maior nessas aplicações.
JTF: Até que ponto essa tecnologia pode criar soluções mais sustentáveis com concreto?
RC: Essa tecnologia visa agilizar a tomada de decisões e melhorar a eficiência no uso de materiais. Com as informações atualizadas em tempo real, é muito mais fácil evitar o desperdício de materiais e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade final do projeto.
JTF: Como você vê o futuro do concreto no mundo da construção e sua relação com a Internet das Coisas (IoT)?
RC: O concreto é um dos materiais mais utilizados no setor da construção e qualquer novidade que represente uma vantagem da primeira à última fase será certamente bem-vinda num sector tão essencial como a construção.
Este setor, por outro lado, está cada vez mais comprometido com a eficiência, como tantos outros. A sustentabilidade deixou de ser um slogan comercial para se tornar um pilar do negócio, e a digitalização em larga escala da construção, em muitas das suas áreas - sendo este apenas um entre muitos outros exemplos - já é mais comum do que alguns anos atrás.
Graças à IoT, é possível obter dados sobre a resistência deste material, fator fundamental para poupar recursos, mas também para garantir com certeza que os edifícios estão em boas condições.
Acredito que cada vez mais setores são incentivados a utilizar este tipo de tecnologia devido ao potencial que possuem e, no caso da construção, a IoT pode ser aplicada em diferentes etapas do processo de trabalho como mencionei, auxiliando no projeto e posterior manutenção dos edifícios. O uso de sensores conectados, como no caso da Torre Cactus, fornece aos arquitetos informações atualizadas sobre o desenvolvimento das obras, o que é útil para qualquer edificação, mas principalmente em pontes e túneis que tendem a sofrer danos de maneira habitual.
Sem dúvidas, a construção está passando por uma revolução com a chegada da IoT e acredito que é um filão que deve servir para transformar os negócios do setor, para continuar inovando e acima de tudo para melhorar a eficiência dos processos.
Confira mais detalhes das Cactus Towers, projetadas pela BIG, aqui.